PRÓLOGO: O SOM NO SÓTÃO

O estalo ecoou de repente, como se a casa tivesse suspirado. Não era o vento, nem madeira velha. Soou como páginas viradas às pressas, lá do alto, no sótão. Phil ergueu-se primeiro, os olhos brilhando de curiosidade.

— Vocês ouviram isso?

Math levantou a cabeça do caderno onde rabiscava anotações de aventuras.

— Soou como... um livro sendo lido — respondeu, franzindo o cenho, meio desafiador e meio apreensivo.

Dave, o mais novo, apertou a espada de brinquedo feita de cabo de vassoura.

— Mas quem estaria lendo lá em cima, se a vovó nem sobe mais no sótão?

O silêncio se prolongou, pesado, como se o som tivesse deixado uma pergunta suspensa no ar. O sótão sempre fora o território proibido da casa da avó: um lugar de poeira e mistério.Agora, parecia chamá-los.

Math ajeitou os óculos. Sua voz saiu firme, mas o coração batia acelerado.

— Se existe um mistério, precisamos encarar.Vamos.

A escada rangeu a cada passo, como se advertisse que ainda havia tempo de voltar. Nenhum dos três recuou. Quando empurraram a porta pesada, o cheiro de madeira antiga e papéis guardados os envolveu como uma cortina invisível. O feixe da lanterna correu por caixas empilhadas, baús fechados, móveis adormecidos sob lençóis brancos. Tudo estava imóvel, mas o som voltou: páginas que se moviam, num sussurro profundo, vindo de uma caixa de cedro no canto mais distante.

— Está vindo dali — Phil apontou, em voz baixa.

Math se aproximou, afastando teias de aranha. Juntos, ergueram a tampa pesada da caixa. Dentro havia cartas amareladas, retratos antigos... e, no meio deles, repousava um livro. A capa era de couro escuro, marcada por símbolos dourados que pareciam refletir a luz como brasas vivas. No centro, um desenho semelhante a uma chama. Não parecia mágico; parecia sagrado, preservado para aquele momento. Quando Math tocou a capa, não sentiu poder estranho, mas um calor sereno, como a paz que antecede uma cura.

— Parece... especial. — Dave arregalou os olhos.

Math respirou fundo e abriu o livro. De súbito, o sótão foi tomado por uma claridade suave, que não queimava os olhos nem assustava, mas enchia o ambiente de reverência. As páginas se moveram sozinhas, formando um mapa de luz sobre o chão. Montanhas, rios e caminhos brilhavam sobre as tábuas de madeira. No teto, constelações cintilavam, e no centro da visão surgiu uma frase luminosa:

— Isso é... um chamado. Um chamado para algo que precisamos resolver — Phil quase sussurrou.

— Então temos que responder. — Dave apertou a espada de madeira, não de medo, mas de propósito.

Math fechou o livro com cuidado. O brilho permaneceu em seus olhos, gravado no coração. Naquele instante, entenderam que não estavam apenas diante de páginas antigas, mas diante de uma jornada preparada por Deus para a cura e a formação de quem eles deveriam ser. E o primeiro passo já havia sido dado.